A ginecologista Dra. Rosa Maria Neme(CRM-SP 87844) esclarece dúvidas sobre a doença.
Cólicas fortes, que pioram a cada mês, aumento do fluxo menstrual, dores abdominais e dor durante a relação sexual são alguns dos sintomas associados à endometriose – uma doença imprevisível e que ainda está sendo pesquisada pela Medicina, pois ainda não se sabe efetivamente qual é o principal fator que desencadeia o problema.
“Refluxo de sangue pelas tubas uterinas durante o período menstrual, alteração da imunidade do corpo da mulher e uma predisposição genética são alguns dos fatores que tentam explicar o aparecimento da doença, mas não são os únicos”, explica a ginecologista Dra. Rosa Maria Neme. A alteração do fluxo menstrual pode ocorrer em cerca de 10% das mulheres com endometriose.
Hoje no Brasil, cerca de 15% da população feminina, com idade entre 15 e 45 anos, sofre com a endometriose, uma doença caracterizada pela presença de tecido endometrial (que reveste o útero internamente) fora da cavidade uterina.
Para elucidar os principais aspectos da doença, como se desenvolve, sintomas e tratamentos, Dr. Rosa Maria Neme, que se dedica a pesquisar sobre a doença, relacionou 11 mitos e verdades sobre a endometriose. Acompanhe!
Endometriose é uma doença causada apenas pelo excesso de menstruação.
Mito. Sabe-se que a endometriose é uma doença que depende do hormônio estrógeno para seu desenvolvimento. Este é o hormônio feminino mais importante produzido pelo ovário durante a vida reprodutiva da mulher. Além disso, ele também é produzido pelo tecido gorduroso (apesar de ser em sua forma menos ativa), o que favorece uma piora da doença. Predisposição genética, estilo de vida, queda do sistema imunológico e alterações no fluxo menstrual são fatores que predispõem ao aparecimento da doença.
É uma doença silenciosa, que não apresenta sintomas.
Mito. Esta é mais uma dúvida á respeito da endometriose. Nem sempre a quantidade de sintomas tem relação com a quantidade da doença, ou seja, há mulheres que tem endometriose avançada e são assintomáticas ou tem poucos sintomas e outras que podem ter endometriose inicial e apresentam sintomas exuberantes. Além disso, a doença pode apresentar alguns sintomas, que não são exclusivos da endometriose, ou seja, pode também ser algum outro problema ginecológico. Por isso, a mulher precisa ficar atenta para ir ao médico para um diagnóstico preciso. Os principais sintomas são: a cólica menstrual em graus variados, dificuldade para engravidar (presente em 30 a 40% das mulheres), alterações intestinais durante a época da menstruação, dor para evacuar ou peso (intestino solto, por exemplo) ou dificuldades para evacuar, desconforto ou dor durante a relação sexual no fundo da vagina, além de dores contínuas na barriga. Por serem as dores abdominais sintomas corriqueiros, as mulheres costumam relacioná-las a simples cólicas menstruais, intestinais ou até mesmo à manifestação de gases. Em geral, essas mulheres podem apresentar quadros de ansiedade ou depressão, relacionados à intensidade dos sintomas.
A endometriose não tem cura.
Verdade. Apesar de não ter cura definitiva, a endometriose possui opções de tratamento. A escolha da terapêutica mais adequada dependerá da severidade dos sintomas e do grau da doença instalada.
A rotina da mulher moderna pode desencadear a doença.
Em partes. A endometriose também é conhecida como “doença da mulher moderna”, já que seu aparecimento sofre influência do padrão de vida feminino atual: a mulher tem menos filhos, engravida mais tarde, fatores que relacionados a um estímulo do estrógeno maior durante a vida destas mulheres e, principalmente, submetida constantemente a um maior nível de estresse, com isso ocorre alteração da imunidade.
A falta de tratamento da endometriose pode fazer com que a doença atinja outros órgãos.
Verdade. A endometriose é uma doença progressiva. A falta de tratamento vai causando processos de aderências e infiltração dos focos da doença em órgãos vizinhos, podendo atingir o intestino, os ovários, a bexiga, só para citar alguns exemplos. Além disso, pode causar infertilidade em casos avançados e quadros de dores crônicas, mesmo fora do período menstrual, que não melhoram com medicações analgésicas.
A infertilidade causada pela endometriose é definitiva.
Mito. Na grande maioria das vezes, a infertilidade pode ser revertida com tratamentos específicos. Na pior hipótese, a mulher é submetida a um tratamento de fertilização in vitro, que tem apresentado altas taxas de sucesso, mesmo em mulheres com antecedente de endometriose.
Pode ocorrer da mulher estar com endometriose e engravidar.
Verdade. Somente 30 a 40% das mulheres com endometriose apresentam problemas para engravidar. Alguns estudos mostram que as mulheres podem ter uma chance de abortamento discretamente aumentada nos primeiros três meses de gestação. Quanto ao restante da gestação, não há nenhum risco.
A laparoscopia é indicada para tratar todos os tipos de endometriose.
Mito. Esta técnica é indicada nos casos onde os sintomas da endometriose são mais intensos, em casos mais avançados da doença ou ainda nos casos leves, quando não houve melhora dos sintomas com o tratamento medicamentoso. A cirurgia laparoscópica serve tanto para o diagnóstico quanto para o tratamento. No momento do procedimento, todos os focos de endometriose que são evidenciados são imediatamente retirados e cauterizados. Esta é a grande vantagem de um diagnóstico preditivo bem feito, pois se sabe exatamente o que será encontrado, com a possibilidade de se fazer uma boa programação antes da cirurgia. A laparoscopia é um procedimento que pode apresentar grande dificuldade técnica (dependendo do grau de endometriose) que requer profundo conhecimento da anatomia pélvica – que, muitas vezes, encontra-se bastante alterada pela intensa atividade inflamatória provocada pela doença.
A Cirurgia robótica é uma alternativa à laparoscopia convencional.
Verdade. Quando a endometriose está em fase mais avançada e já se instalou profundamente na região do intestino, por exemplo, bexiga – chamada endometriose profunda -, uma alternativa à cirurgia laparoscópica convencional é a Cirurgia Robótica. Esta tecnologia, também minimamente invasiva, tem uma atuação significativa em doenças ginecológicas benignas que, por vezes, comprometem a capacidade reprodutiva da mulher. Sua tecnologia permite uma visão mais precisa e detalhada da região a ser operada, garante melhor recuperação da paciente e um menor tempo de hospitalização.
Dra. Rosa Maria Neme (CRM SP-87844) – É graduada em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (1996). É membro da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia e Sociedade de Ginecologia do Estado de São Paulo e dirigi o Centro de Endometriose São Paulo.
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