Resumo do Capítulo VIII. Esperança, do Livro "Sobre a Morte e o Morrer" de Elisabeth Kübler-Ross
Até aqui, discutimos os diferentes estágios por que as pessoas passam ao se depararem com noticias trágicas: mecanismos de defesa e luta para enfrentar situações extremamente difíceis. Tais estágios terão duração variável, um substituirá o outro ou se encontraram lado a lado. A única coisa que geralmente persiste, em todos os estágios, é a esperança.
Ouvindo pacientes em fase terminal, até mesmo os mais conformados, realistas, deixavam aberta a possibilidade de alguma cura, que fosse descoberto um novo tratamento ou êxito num projeto recente de pesquisa.
A esperança é a sensação de que tudo deve ter algum sentido. De que tudo não passe de um pesadelo, que o doente acorde uma manhã e médicos estão prontos para tentar um novo tratamento que parece promissor e que vão testar nele; que talvez seja o paciente escolhido, como o paciente do primeiro transplante de coração, que deve ter se sentido como sendo escolhido para desempenhar um papel especial na vida. Isto proporciona ao paciente em fase terminal um ânimo, e faz com que se submetam a exames e mais exames. Sensação que serve de conforto em situações difíceis. Quando o paciente não da mais esperança, geralmente é prenuncio de morte eminente.
Os conflitos relacionados com a esperança são: a substituição da esperança pela desesperança, tanto por parte hospitalar, quanto por parte da família, quando a esperança é fundamental para o doente. E também a angustia provinda da incapacidade da família de aceitar o estagio final de um paciente. Agarram-se a esperança com unhas e dentes quando o paciente já se preparava para morrer, mas sente que a família não é capaz de aceitar esse fato.
Não se deve desistir de nenhum paciente, esteja ou não em fase terminal. Quem esta fora do alcance de ajuda medica merece maiores cuidados do que aqueles que ainda podem esperar. Desistir de um paciente pode fazer com que ele se entregue e qualquer ajuda posterior poderia chegar tarde demais, não encontrando o paciente em condições ou espírito para “tentar mais uma vez”.
Muito ajudaria se as pessoas conversassem sobre a morte e o morrer, naturalmente como não temem falar quando alguém espera um bebê. Prejudicamos mais evitando tocar no assunto do que aproveitando e encontrando tempo para ouvir e compartilhar. Caso o paciente saiba que encontraremos um tempo disponível quando ele sentir vontade de falar, constataremos que a maioria realmente quer dividir suas preocupações, reagindo com alivio e uma esperança maior.
Se como profissionais pudermos ajudar o paciente e sua família a encontrarem sintonia com suas necessidades e chegarem a uma aceitação, evitaremos muita agonia e sofrimentos desnecessários.
A entrevista do Sr. J. constitui um exemplo do estagio de raiva e revela o fenômeno da esperança presente de modo disfarçado. O Sr. J. foi hospitalizado com mycosis fungoides, doença maligna da pele.
O Sr. J., a quem vinte anos de doença e sofrimento haviam o transformado numa espécie de filosofo, apresenta muitos sinais de ira disfarçados. O que está querendo dizer na entrevista é: “Tenho sido tão bom, por que eu?”. Descreve como era forte nos tempos de juventude, como cuidava da família, como trabalhava e nunca deixara tentar pelos maus elementos. Depois de tanto esforço, com os filhos crescidos, esperava dispor de alguns anos para viajar e tirar férias. Agora, gasta suas energias contra o desconforto e a dor. Reexamina essa luta e vai eliminando, ponto a ponto, os pensamentos que lhe passam a mente (o suicídio, uma aposentadoria compensadora). Seu campo de possibilidades diminui a medida que a doença progride, suas expectativas e exigências se tornam menores e, finalmente, aceita o fato de viver entre uma recuperação e outra. Sr. J. manteve viva a esperança de cura até o ultimo dia.